Jose Benedito
Contos, Crônicas e Artigos
Textos
O medo de cemitério
Quem já morou no interior sabe que a região antigamente era só mata.
Tudo aquilo estava sendo colonizado.
A minha cidade ainda não existia, enquanto Município.
Porém, alguns bairros surgiam denotando qual seria a sede do Município.  
Surgiram o Alto Iracema, a Guaraniuva, a Sumatra, o Jardim Marajá, o Marajoara que já eram bem prósperos.
Indicando que ali se desenvolveria a sede do município.
Conta-se que para o Bairro do Alto Iracema mudou-se com o pai e a mãe um caboclo conhecido por Mané Muleta.
Era um caboclo trabalhador, apesar da deficiência, e gostava de uma cachacinha e de contar histórias.
Ninguém mais suportava suas mentiras.
Ele contou que certa vez foi pescar no Rio Feio e pegou no anzol um lambari tão grande que para pesar numa balança de cinco quilos teve que dividir o peixe em três partes.
Deu 14 quilos o lambari.
Contou também que gostava de derrubar touro bravo a unha.
Disse que perdeu a perna esquerda quando matou uma onça que vinha roubar seu rebanho de porcos e cabritos, usando apenas um punhal.
Levou uma mordida da danada que esmagou seu joelho e a perna teve que ser amputada.
Os amigos que já não acreditavam em mais nada do que ele contava, resolveram pregar-lhe uma peça.
Disseram que queriam ver se ele tinha coragem de ficar lá no meio do cemitério, a meia noite.
Ele tentou sair fora sem se desmoralizar e disse que não ia porque era um pouco longe e com somente uma perna não conseguiria chegar até lá.
Os amigos disseram então que não teria problema, levariam ele na charrete do Antônio.
Ele então concordou em fazer a prova.
Era uma noite de lua cheia e lá foram com o papudo arrepiando os cabelos e suando frio, rumo ao Cemitério do Alto Iracema. Um lugar bem deserto e longe do Jardim Marajá.
Lá largaram o mentiroso bem no meio do cemitério e correram a se esconder.
A meia noite em ponto, um deles saiu detrás de uma sepultura vestindo uma mortalha preta que ia até o chão, tinha uma foice na mão direita e uma vela acesa na mão esquerda.
E com uma voz tenebrosa foi dizendo: - “Então você que é o corajoso? Eu vim te buscar!”.
Em milésimos de segundos o Mané desapareceu que ninguém mais o encontrou...
Benedito José Rodrigues e Waldemar Samogim
Enviado por Benedito José Rodrigues em 01/06/2018
Alterado em 08/04/2022
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