O pobre Jó, todo ferido, no auge do sofrimento e da miséria, ainda esperava no Senhor: “Ainda que o Senhor me tirasse a vida, ainda assim esperaria Nele.” Deus recompensou tamanha confiança, a saúde e a prosperidade voltaram à casa de Jó. Nunca se ouviu dizer deixasse Nosso Senhor sem recompensa quem Nele confiou. Confiemos na Providência! Ela nos ajudará na hora extrema, quando talvez já não houver mais esperança de socorro humano.Jó descobre o Deus da Vida, justo e misericordioso, na partilha do sofrimento dos empobrecidos. Para descobrir o Deus que liberta, experimentar o sofrimento dos pobres (Jó 29,11-27) é mais importante do que conhecer. O livro de Jó é um monumento da experiência religiosa a partir do sofrimento causado pela violência e agressão da sociedade. Aí se faz a descoberta do dom gratuito de Deus, através da dor, e do despojamento de toda segurança idolátrica. Há três pontos que a mais recente análise sobre Jó nos leva a considerar: a experiência do sofrimento é fruto da dinâmica social da violência que procura vítimas inocentes para tomar possível a vida em comunidade; a luta contra essa violência está na raiz da formação e desenvolvimento da cultura como um todo. Nesse processo de violência destruidora Jó afirma sua esperança e integridade como um dom de Deus. Ele sabe que seu sofrimento não se explica pela teoria clássica da retribuição. Ele é um pobre diante de Deus. Como tal, sabe que existe para ele uma testemunha: é o seu sangue derramado que grita por justiça, e defenderá a sua causa diante de Deus. A experiência do sofrimento no seu mais alto limite humano torna-se oração personificada, e o grito do pobre terminará por obter de Deus que se declare em favor de Jó, sofredor e inocente e que deve ser libertado da violência causada pelos “amigos”.O Pe. Hugo Echegaray, sj, foi um dos grandes teólogos de Puebla. E aí começou a experiência do sofrimento que o levou à morte, logo depois da reunião dos bispos no México. Esse jovem teólogo inspirou as melhores reflexões de seu mestre, Pe. Gustavo Gutiérrez. Chamou a atenção para os protestos de Jó como o grito dos pobres. A constatação e a rebelde crítica de Jó têm mais profundidade do que a teologia superficial e convencional dos “amigos”. O grito de Jó mostra que, no centro da teologia e da luta pelos “direitos humanos” é preciso concretizar o grito e a luta pelos “direitos dos pobres”. Esse grito dos pobres, às vezes, até reduz o raciocínio religioso e teológico a cinzas sem consistência. Numa visão convencional e mecânica da justiça de Deus, o sofrimento dos pobres é a crítica de uma ética baseada no princípio da retribuição. O discernimento teológico de Jó é contemplativo e profético. A experiência de Jó nos convida a refletir sobre perguntas difíceis a respeito das causas do sofrimento, a fragilidade da existência humana e os motivos para crer em Deus mesmo quando a vida parece injusta.