Eu cheguei em Pacaembu em 1956, a Cidade estava crescendo e desenvolvendo, para aquela época de desbravamento do interior paulista. E ao redor do Centro foram surgindo os colégios, os grupos escolares, o fórum, a igreja, o campo de futebol, o campo de beisebol, a rodoviária, a Santa Casa de Misericórdia, o campo de aviação, a usina de algodão e café, a indústria de óleo e o cinema. A colônia nipônica era grande na Cidade, principalmente nos bairros do Alto Iracema, da Nipolandia e do Marajá. E foram eles que construíram a Praça do Relógio, o Clube Kaikan, o Templo Budista, a Seicho No IE, os campos de beisebol e o cinema. O cinema ainda era uma novidade para a época. Era exibido filmes de samurai e vários filmes em preto e branco. Naquela época filas se formavam para comprar os seus ingressos. As sessões quase sempre lotadas nos sábados e domingos. Principalmente quando os filmes eram bíblicos. Eu ainda lembro aquelas fileiras de cadeiras todas lotadas. E naquelas paredes estavam expostos os cartazes dos filmes que seriam exibidos. Em um destes cartazes estava a sessão do domingo a noite. A elite da cidade também ia ao cinema. Eles estavam presentes quando o filme era bom. Muitos tinham a preferência para os filmes de dramas ou mesmo para os filmes mais românticos como "Doutor Jivago", "Romeu e Julieta", "Os Dez Mandamentos", "Ben Hur". Por um momento lembro em 1972 o cinema está lotado e o filme é "Krakatoa o Inferno de Java". Enquanto aguardamos o filme começar ouvimos aquela musica que marcou esta época! "Theme from a summer place (Percy Faith version)". O "Canal 100" antes de começar o filme com notícias e futebol. O cinema não tinha pipoca com azeite trufado. Nem projeção em tecnologia 3D. Nem som desenvolvido por George Lucas, mas, mesmo assim, era um cinema querido pelos pacaembuenses. Mas, depois de várias gerências eles fecharam as portas. O “Cine Luz" fechou. Primeiramente uma loja de peças de carros e caminhões comprou o prédio e depois virou uma loja de eletrodomésticos que funciona até hoje naquele prédio do antigo cinema da cidade. A cidade perdeu. A cultura perdeu. Perdeu seu único cinema. Ninguém resgatou sua memória. Enquanto isso a televisão cresceu. Foi ganhando espaços. Invadiu lares impondo o que era moderno. O "fantástico" mundo da vida até hoje continua sendo exibido nas sessões dás vinte horas...