Jose Benedito
Contos, Crônicas e Artigos
Textos

Antes da chuva

Eu, hoje com meus 68 anos, sempre achei que certas notícias ou informações devem ser ditas de forma correta, em tempo hábil, sem muitos rodeios frente a uma possível nova realidade que virá após certos diagnósticos dados sobre a atual condição de um certo paciente. Sim, é verdade que pode até ser doloroso, para o paciente e seus familiares, porém, certas notícias tem que ser dadas. Não tem outro jeito e isso constitui um dever o paciente saber qual é o seu diagnóstico médico. Maria e Esther estão em meio a pesadas perdas. Maria é uma imigrante salvadorenha que perde o emprego injustamente por faltas ao trabalho após adoecer e também está terminando um relacionamento doloroso com seu companheiro. Dona Esther, é uma senhora idosa já com diagnóstico de Alzheimer, e claro já está perdendo aos poucos a sua memória e, com ela, suas lembranças mais importantes. Em meio a isso, elas constroem uma amizade especial e profundos questionamentos sobre o esquecimento, que resultam em uma reconstrução completa de Maria, além de proporcionar o bem estar necessário a Esther e sua filha, Soledad, em seus momentos mais delicados. Eu confesso aqui que não sou especialista no assunto e nem tenho formação específica para definir o que é o Alzheimer. Mas, pelo que se sabe tudo começa quando as células do cérebro no hipocampo, uma parte do cérebro associada com o aprendizado, são normalmente as primeiras a serem danificadas pelo Alzheimer. É por isso que a perda de memória, principalmente a dificuldade em lembrar certas informações recentemente aprendidas, é normalmente o primeiro sintoma da doença. É um fato real e vivenciado. Em agosto de 2013, mais precisamente, em um velório, encontrei uma tia que naquele momento ela estava ali sentada quietinha e acompanhada por outra tia. Ela era uma pessoa muito simples. Note bem que eu disse ela era! Ela era uma dona de casa e cuidava de todos os afazeres domésticos. E naquela noite, naquele velório, lá estava ela ali sentadinha, quietinha, eu lembro bem como se fosse hoje, eu cheguei perto dela e a cumprimentei. Bença tia, como está a senhora? Ela toda sorridente me perguntou quem é você? Eu falei tia a senhora não lembra de mim mas eu lembro muito bem da tia. Talvez tenha sido essa uma das últimas vezes que conversei com ela. Em outra vez que a vi ela já estava acamada. E em outra vez não falava mais e nem conhecia mais ninguém...

Benedito José Rodrigues
Enviado por Benedito José Rodrigues em 27/09/2024
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