Que saibamos de antemão que frente as inúmeras dificuldades enfrentadas as vezes não vemos saída. Não tem o que fazer pra sobreviver. O jeito é largar tudo e fugir daquele lugar. Naquele dia, naquele trem da CPTM aquele Senhor de origem e sotaque "angolano", oferecia sua única mercadoria que tinha em uma sacola sem fazer muito alarde, paciente e com um sotaque meio misturado de português com espanhol e frases soltas em português ele oferecia livros aos passageiros daquele vagão. Olha que eu já vi a venda de água, refrigerantes, balas, doces, fones de ouvido, pomada massageadora, cerveja...etc. Mas, livros confesso que era a primeira vez que presenciei tal venda. Com certeza não era mercadoria de nenhum caminhão tombado. Imagina a cena de um caminhão carregado de livros tombado e os transeuntes recolhendo para ler aqueles livros espalhados pelo asfalto. É preciso lembrar que aqui no Brasil, 44% da população não lê e 30% nunca comprou um livro. O brasileiro lê em média 4 livros por ano, enquanto que no Canadá costuma ler 12 livros por ano. Bem, o livro que estava sendo vendido não era nenhum "best-seller". E nem uma obra literária famosa de algum escritor famoso. Era um livro simples de crônicas. E eu pude de um relance perceber que o livro simples tinha como enredo a história de uma personagem sobrevivente da fome e de uma pobreza sem fim que abateu sobre o seu pais de origem. Para ela também não tinha outro jeito. Era tudo ou nada. Se bem que o nada ela já tinha. Então, em uma certa noite fugiu de lá pelo mar adentro deixando tudo o que tinha pra trás, isso é se tinha alguma coisa a deixar. Naquele barco simples ela e outros enfrentaram fortes ondas e a escuridão do mar agitado. E finalmente chegou ao Brasil! Um povo acolhedor! Um país rico, de paz e de natureza plena. Um país de fartura e de prosperidade. O livro custava $10 . Verdade seja dita, assim como lá e cá, não é nada fácil viver neste mundo capitalista tão desigual e desumano onde uma grande maioria das pessoas passam inúmeras dificuldades para sobreviverem. A cada dia que passa é possível chegar a triste conclusão de como é difícil conseguir não só o sustento diario necessário como também ter condições melhores de vida. Certo dia eu vi a teimosia daquele menino, que acabara de assumir a responsabilidade de chefe de uma casa, e que agora vendia na feira o que fora colhido no terreno embaixo das torres elétricas, que lhe fora cedido para plantar. Ele, em um canto, ao lado da banca de uma feira livre, gritava sem parar para oferecer o fruto de seu suor, e que agora seria seu arrimo junto de sua família. Em um gesto nobre de quem realmente precisa sobreviver em um mundo de condições tão desigual principalmente para aqueles mais necessitados. Ele oferecia sem cessar, o que tinha a oferecer, e mesmo que alguém quisesse porventura calar sua voz mais longe ainda se podia ouvir. Ele oferecia com alegria o que já havia conquistado com seu suor do trabalho.